O futuro da web sempre pertenceu ao Vale do Silício. Países como China, Brasil e Rússia podem mudar essa realidade
Lan House na China: há mais chineses conectados na rede do que habitantes nos Estados Unidos
São Paulo - Para o mercado americano de internet, o mais importante do mundo, o ano de 2011 deve terminar com inquietude e expectativa: o Yahoo!, um dos símbolos da primeira fase da web, está à venda. Não é a primeira vez que isso acontece. Mas há peculiaridades no novo cenário — em especial no que diz respeito aos postulantes à compra da empresa.
Entre eles estão candidatos óbvios, como a Microsoft, que teve uma oferta recusada em 2008 (ah, se os acionistas pudessem prever o futuro!). Mas há outro que vem causando especial furor nos mercados. Trata-se do grupo chinês Alibaba, gigante do comércio eletrônico asiático e uma das empresas de internet que mais crescem em todo o mundo.
Em 2005, o Yahoo! comprou 40% do Alibaba por 1 bilhão de dólares. Agora, o Alibaba quer comprar essa participação de volta — e, de quebra, levar o Yahoo! Com a transação, estimada em 25 bilhões de dólares, os chineses poderão colocar as mãos sobre o portal mais popular dos Estados Unidos e sobre 300 milhões de contas de e-mail.
A eventual compra do Yahoo! pelos chineses é um daqueles eventos capazes de separar duas eras. Mesmo que não venha a se concretizar, o episódio já vem sendo interpretado como símbolo de uma nova fase para a web: a vez dos emergentes.
Até pouco tempo atrás, os Estados Unidos eram o país com o maior número de cidadãos conectados. Nas últimas décadas, não por acaso, foram empresas do Vale do Silício, como Google e Facebook, as responsáveis por fundar as bases da nova economia digital.
Como em outros setores, porém, a vez dos emergentes parece ter chegado também à internet. Não faltam indícios desse fenômeno. Existem hoje mais chineses conectados na rede que pessoas morando nos Estados Unidos. Nos últimos anos, o comércio eletrônico no Brasil cresceu duas vezes mais rápido do que a média americana.
Por fim, vem da Rússia, e não dos Estados Unidos, o fundo Digital Sky Technologies, aquele que mais lucrou com redes sociais, que representam o último grande fenômeno da internet.
Com óbvia inspiração em ideias de negócios do Vale do Silício, países como China, Índia, Brasil e Argentina produziram nos últimos anos um punhado de êxitos locais. Um desses casos é o Baidu, serviço chinês de buscas online que em 2011 foi apontado pela revista americana Fortune como a empresa de tecnologia que mais cresce no mundo.]
Há outros exemplos. No mesmo ranking, o Mercado Livre, plataforma de comércio eletrônico com sede na Argentina, mas que tem no Brasil seu principal mercado, ficou em quarto lugar. Porém, a grande novidade, nesses novos tempos de web, é que os emergentes têm se mostrado capazes de criar não apenas cópias de sites exitosos, mas também novas ideias e modelos de negócios.
O Badoo, rede de relacionamentos lançada em 2006 pelo russo Andrey Andreev, é prova disso. Ao misturar recursos de redes sociais, como o Facebook e antigos sites de relacionamentos, o Badoo criou um gênero inédito na web: uma rede que propõe encontros casuais entre pessoas que não se conhecem.
Com presença em mais de 180 países, o site tem hoje 130 milhões de usuários, tornando-se uma das maiores e mais lucrativas redes sociais da internet.
Com exemplos como esse, é natural que, daqui para a frente, investidores busquem encontrar não apenas o próximo Facebook, mas também o próximo Baidu ou Badoo. Na prática, isso já vem ocorrendo. Pela primeira vez, há dinheiro em abundância a escorrer para empresas de internet de fora do Vale do Silício.
Desde 2005, estima-se que mais de 6 000 startups na Ásia tenham recebido investimento. Apenas em 2010, cerca de 38 bilhões de dólares foram investidos em jovens empresas de tecnologia da China e da Índia, que ficam atrás apenas dos Estados Unidos no ranking de países que mais receberam investimentos de capital de risco na categoria.
Efeitos desse fenômeno começam a ser sentidos também no Brasil. Nos dois últimos anos, empresas de internet brasileiras receberam investimentos de alguns dos maiores fundos de capital de risco do mundo, como Accel Partners e Benchmark. Sinal dos novos tempos.
Empresários faturam com a revenda de bicicletas, acessórios e diversos tipos de produto e serviço voltados para os amantes das bikes
Por Nathalia Prates
Cansado do trânsito caótico da cidade de São Paulo, Rene Fernandes decidiu substituir o carro pela bicicletapara percorrer o trajeto de casa até a Fundação Getulio Vargas, onde atua como gerente de projetos no Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios (FGV-Cenn). Além de chegar mais rápido ao trabalho, Fernandes comemorou a economia de combustível – o consumo passou de um tanque de gasolina em duas semanas por um de álcool a cada três – e de estacionamento.
Com o trânsito crescente e a busca por um estilo de vida mais saudável, cada vez mais pessoas estão seguindo esse caminho e adotando a bicicleta como meio de transporte e de exercício. Com essa mudança de hábito, cresce um segmento de negócio: o de produtos e serviços relacionados ao ciclismo.
De acordo com o diretor executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes e Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e similares (Abraciclo), Moacyr Alberto Paes, as ciclofaixas que funcionam nos finais de semana são uma das grandes responsáveis pelo aumento do número de ciclistas e novas marcas ligadas ao setor. “As ciclovias e rotas preferenciais são uma ótima oportunidade para despertar nas pessoas o interesse pela bicicleta e fazer com que experimentem benefícios como a economia de recursos e a qualidade de vida”, afirma.
Revenda de bikes, produção e distribuição de acessórios e serviços de manutenção e customização são alguns dos negócios que estão surgindo e crescendo com esse interesse da população pelo ciclismo. De acordo com Rene Fernandes, antes de investir nesse mercado, é fundamental entender as necessidades consumidor. “O ideal é se especializar em um tipo de ciclismo ou, se quiser atingir um público mais abrangente, conhecer bem a demanda de seus clientes e apresentar soluções.” Segundo ele, as grandes lacunas no mercado nacional de bicicletas são um e-commerce forte, que traga produtos importados e de melhor qualidade para os ciclistas brasileiros, e o aluguel de bikes próximo a estações de trem e metrô. A customização também se apresenta como uma boa oportunidade de negócio.
A paulistana Tag and Juice, dos sócios Billy Castilho e Pablo Gallardo, é um dos estabelecimentos que embarcou nessa oportunidade. Antes de entrar para o mercado de ciclismo, a dupla já trabalhava com arte e design. A loja herdou essas características e engloba ateliê de bikes, galeria de arte, butique de roupas e café. “Não vendemos só um produto, mas um conceito, um estilo de vida”, afirma Castilho. Para Gallardo, o ciclista urbano é antenado em questões como sustentabilidade e bem-estar, além de ser preocupar em alternativas para tornar a sua cidade melhor.
Na loja, entusiastas e amantes do ciclismo, artes plásticas, música, gastronomia e cultura urbana podem encomendar bikes exclusivas, inspiradas nos anos 1920 e personalizadas conforme cor, modelo, tamanho e tipo de material. O serviço de montagem é terceirizado, e as bicicletas, vendidas por a partir de R$ 3.000, representam quase metade do faturamento total. Desde 2010, ano em que começou a funcionar, a empresa teve crescimento de 40% na receita. “A busca por bikes é algo natural, que vem crescendo não só em São Paulo como em várias cidades do país. As pessoas estão percebendo a necessidade de aproveitar a vida com mais consciência, saúde e diversão”, afirma Gallardo.
Serviços agregados
Segundo a Abraciclo, do total de bikes vendidas no Brasil, cerca de 50% é voltada para a locomoção e transporte, 32% para o público infantil, 17% para recreação e lazer, e apenas 1% para competição. Para o diretor executivo da associação, antes as bicicletas eram mais comuns em regiões do interior, periféricas e litorâneas. Agora, elas também estão alcançando as principais capitais do país e consumidores de alta renda. “A bicicleta surge como solução para problemas de transporte dos grandes centros urbanos.” De acordo com Paes, a questão da mobilidade urbana é um dos grandes atrativos e apostas de crescimento no setor.
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sono pode ser 'mito'
Foto: Getty Images
Dados científicos e históricos sugerem que a recomendação de oito horas ininterruptas de sono por dia pode ser baseada em um mito. Segundo especialistas, o processo biológico natural prevê um sono segmentado em duas partes, mas o padrão foi aos poucos sendo alterado por transformações sócio-culturais.
No início da década de 90, o psiquiatra Thomas Wehr realizou uma experiência na qual um grupo de pessoas ficou em um ambiente escuro durante 14 horas por dia em um período de um mês. Os voluntários precisaram de um tempo para regular o sono mas, na quarta semana, eles apresentaram um padrão de sono muito diferente: eles dormiam por quatro horas, acordavam durante uma ou duas horas e depois dormiam por mais quatro horas.
Além desta pesquisa, em 2001, o historiador Roger Ekirch, da Universidade Virginia Tech, publicou um estudo depois de 16 anos de estudo que revelou várias provas históricas de que o sono humano é dividido em dois períodos. Quatro anos depois, Ekirch publicou o livro At Day's Close: Night in Times Past ("No Fim do Dia: A Noite no Passado", em tradução livre), que mostra mais de 500 referências a um padrão de sono segmentado, em diários, registros jurídicos, livros médicos e literatura, desde a Odisseia, de Homero, até um relato antropológico a respeito de tribos modernas da Nigéria.
Estas referências descrevem um primeiro período de sono que começava cerca de duas horas depois do anoitecer, seguido de um período em que a pessoa ficava acordada por uma ou duas horas e então um segundo período de sono. "Não é apenas um número de referências, é a forma como é relatado, como se fosse de conhecimento de todos", disse Ekirch.
Atividade noturna
Na experiência de Wehr, durante o período de duas horas em que as pessoas ficavam acordadas, havia atividade. Estas pessoas se levantavam, iam ao banheiro ou fumavam e algumas até visitavam os vizinhos. A maioria das pessoas ficava na cama, lia, escrevia ou rezava. Vários livros de orações do final do século 15 traziam preces especiais para as horas entre os períodos de sono.
Estas horas nem sempre eram solitárias, as pessoas geralmente conversavam ou tinham relações sexuais. Um manual médico da França do século 16 até aconselhava os casais que a melhor hora para conceber um filho não era no final de um longo dia de trabalho, mas "depois do primeiro sono".
Ekirch descobriu em sua pesquisa que as referências ao primeiro e segundo sono começaram a desaparecer no final do século 17. Isto começou nas classes sociais superiores do norte da Europa e nos 200 anos seguintes se espalhou para o resto da sociedade ocidental. E, por volta da década de 20, a ideia do primeiro e segundo sono já tinha desaparecido.
O pesquisador atribui esta mudança à melhoria na iluminação pública, na iluminação doméstica e a um aumento do número de cafeterias, que, em alguns casos, ficam abertas a noite inteira. A noite se transformou em um período de atividade normal e o tempo de descanso diminuiu.
Noite, crime e luz
O historiador Craig Koslofsky, tem uma explicação para como a noite mudou, em seu liro Evening's Empire("Império da Noite", em tradução livre). "Antes do século 17, as associações feitas com a noite não eram boas", afirmou o historiador. Segundo Koslofsky, a noite era um período ocupado por criminosos, prostitutas e bêbados.
"Mesmo os ricos, que podiam pagar pela luz das velas, tinham coisas melhores nas quais gastar o dinheiro. Não havia prestígio ou valor social associados à noite." Mas, tudo começou a mudar na época da Reforma e da Contra Reforma, no século 16, quando protestantes e católicos começaram a participar de cerimônias noturnas.
Esta tendência se espalhou pela esfera social, mas apenas para aqueles que tinham dinheiro para pagar por velas. Mas, com o início da iluminação pública, as atividades noturnas começaram a se espalhar por todas as classes. Em 1667, Paris se transformou na primeira cidade do mundo a ter luzes nas ruas. Lille ganhou sua iluminação com velas no mesmo ano e Amsterdã, dois anos depois. Londres ganhou suas luzes em 1684 e, no final daquele século, mais de 50 grandes cidades da Europa contavam com iluminação noturna.
A noite virou moda e passar estas horas na cama era visto como perda de tempo. E, segundo o pesquisador Roger Ekirch, a Revolução Industrial intensificou ainda mais este processo. Um livro médico de 1829 pede que os pais obriguem suas crianças a não seguirem o padrão do primeiro e segundo período de sono, por exemplo.
Preferência
Nos dias de hoje a maioria das pessoas parece ter se adaptado ao padrão de oito horas ininterruptas de sono, mas Erkich acredita que muitos problemas do sono podem ter suas raízes na preferência natural do corpo humano por um período de sono dividido em períodos. E também à popularização da iluminação artificial.
Esta parece ser a raiz do problema que acomete muitas pessoas que acordam durante a noite e não conseguem voltar a dormir. "Na maior parte da evolução nós dormimos de uma certa forma. Acordar durante a noite é parte da fisiologia normal humana", afirmou o psicólogo do sono Gregg Jacobs.
A ideia de que precisamos dormir em um único período pode ser prejudicial à saude, segundo Jacobs, caso as pessoas que acordem à noite fiquem ansiosas. "Muitas pessoas acordam durante a noite e entram em pânico. Digo a elas que isto é apenas uma volta ao padrão de sono segmentado", disse o neurocientista especialista em relógio biológico da Universidade de Oxford Russell Foster.
Mas, a maioria dos médicos não reconhece que o sono ininterrupto de oito horas pode não ser natural. "Mais de 30% dos problemas de saúde relatados por médicos têm origem direta no sono. Mas o sono tem sido ignorado em treinamentos médicos e existem poucos centros para o estudo do sono", afirmou Foster.
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