
Por volta de 266 mil professores da educação básica do país possuem uma segunda ocupação fora do ensino, um "bico", aponta estudo apresentado no mês passado pelos pesquisadores da USP Thiago Alves e José Marcelino de Rezende Pinto.
A informação é da reportagem de Fábio Takahashi e Elton Bezerra publicada na edição desta segunda-feira da Folha. A reportagem completa está disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha.
Os professores com segunda ocupação representam 10,5% do magistério nacional, índice bem acima do da população brasileira (3,5% têm outro trabalho). O estudo usa a Pnad-IBGE e o Censo Escolar-MEC, ambos de 2009, e abrange as redes privada e pública.
Alguns dos mais frequentes "bicos" dos docentes são os de vendedores em lojas e os de funcionários em serviços de embelezamento.
Para os autores do estudo, a maior incidência do "bico" entre os professores está relacionada aos baixos salários.
Tanto o Ministério da Educação quanto os secretários estaduais admitem que os salários dos professores estão longe do ideal. Afirmam, porém, que têm melhorado.
O Sindicato dos Professores em Educação Pública do Pará (Sintepp) decide hoje em assembleia se encerra ou continua a greve dos professores. A reunião acontece às 7h, no Centro Social de Nazaré, após a decisão do juiz Elder Lisboa Ferreira, titular da 1º Vara de Fazenda da Capital - que determinou, na última sexta-feira, o retorno imediato da categoria ao trabalho, sob pena de multa diária de R$ 25 mil.
“Convocamos os professores e esperamos uma quantidade representativa da categoria para que possamos votar sobre o retorno ou não aos trabalhos”, explicou Williams Silva, coordenador estadual do Sintepp.
A decisão sairá da assembleia, mas Williams adianta que “pela tradição da categoria, vamos continuar a greve, independentemente da vontade do juiz ou do governador do Estado”, enfatiza. E completa: “Qualquer decisão tomada pela Justiça, o sindicato irá recorrer da sentença”.
Segundo a decisão do juiz, o governo do Estado não descontará os dias parados e pagará o valor do piso nacional dos professores em até 12 meses, a contar de 1º de janeiro de 2012.
A decisão não agradou aos professores. “Não é possível que o Estado não possa aumentar o valor de R$1.121 para R$1.187, é apenas R$ 64 de aumento”, questiona Williams Silva.
“A decisão do TJE primou pelo bom-senso e respeitou a incapacidade do Estado de arcar com o pagamento imediato do novo piso”, avaliou a secretária de Estado de Administração, Alice Viana.
O secretário de Estado de Educação, Cláudio Ribeiro, afirma que a decisão da Justiça será cumprida em tudo o que determina. “O Estado vai cumprir a sentença. Vamos, agora, discutir um prazo para a reposição das aulas, levando em consideração o mínimo de 200 dias letivos anuais estabelecidos pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases)”, afirmou o secretário.
A sentença também determina que o Sintepp terá 10 dias para elaborar um calendário de reposição das aulas perdidas durante a greve.
regime militar no Uruguai
Aos 71 anos de idade, a ex-militante do Partido Comunista, Leonor Albagli, vai declarar pela primeira vez à Justiça contra os crimes de tortura que sofreu durante o regime militar uruguaio (1973-1985).
"Será a primeira vez que irei à Justiça por vontade própria", disse à BBC Brasil.
Sua audiência está prevista para esta semana, na capital uruguaia. A história de Algagli comove até seus colegas e ex-presos políticos, como Clavel de los Santos. "Foi terrível o que ela viveu", disse ele.
Somente agora, trinta e seis anos depois, a ex-militante decidiu revelar os detalhes das torturas a que foi submetida nas duas vezes em que esteve presa pelos militares, de forma clandestina, entre galpões, prisões e um período num calabouço.
"Eu decidi falar quando soube que os crimes poderiam prescrever no dia primeiro de novembro. Acho que não pode haver perdão para o que fizeram", afirmou. Solteira e sem filhos, ela disse que "muita gente no Uruguai" desconhece que foram realizadas torturas contra os presos políticos naquela época.
Em entrevista à BBC Brasil, Albagli recordou que estava em casa com a mãe e a irmã quando soldados armados invadiram o local, revisaram armários e livros e a levaram com olhos vendados.
A detenção ocorreu em novembro de 1975 e durante nove meses, disse, até agosto de 1976, foi submetida a diferentes práticas de tortura, incluindo choques elétricos.
'Táticas de guerra'
Em 1977, ela foi presa novamente e passou seis anos sendo submetida a novas sessões de choques elétricos, entre outras formas de tortura que às vezes, recordou, só terminavam quando um médico dizia que era o momento de parar ou que ela poderia morrer, como aconteceu com ex-colegas de prisão e militantes.
Albagli contou que passou frio e fome e que foi submetida a "táticas de guerra" como quando mergulhavam sua cabeça num balde com excremento e só a tiravam quando já quase não podia respirar.
"O submarino (o mergulho no balde) era uma das táticas deles. Também passei dias seguidos com olhos vendados e fui submetida a choques elétricos em todo o meu corpo, incluindo meus (órgãos) genitais. Quando eu estava comendo, com olhos vendados, eles me davam socos no estômago. Muitas vezes, me deixavam nua e me apalpavam, sem escrúpulos", contou.
Ela disse que somente uma vez um médico falou aos militares que ela não aguentaria mais as torturas e a internou num hospital militar. "Mas depois me tiraram de lá e as torturas foram reiniciadas", disse.
Na prisão, recordou, não a deixavam tomar banho e a chamavam de "suja e judia". "Uma vez, me deixaram tomar banho e quando pedi uma toalha ligaram o ventilador para eu me secar. Eles não queriam nos machucar, eles queriam nos destruir", disse.
Ela e outros presos foram levados a uma espécie de julgamento onde os militares revelavam o que os outros tinham dito nas sessões de tortura. "Uma forma de nos jogar uns contra os outros."
A tortura a deixou com problemas na coluna e uma gastrite. A previsão é que Albagli e outros ex-presos também realizem, nos próximos dias, exames clínicos e psiquiátricos para que os médicos do Instituto Técnico Forense avaliem as consequências do que sofreram.
"Não me arrependo de nada do que fiz. Pela democracia e contra o autoritarismo, teria feito tudo de novo. Não tenho sonhos ou pesadelos com aqueles dias. Mas a vida durante aquele período (de torturas) e depois não foi fácil", afirmou.
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